POR Roger C. Palms |
Pastores
podem ter um ministério eficaz e garantir um tempo de qualidade com suas
famílias.
Há
pouco tempo conheci um pastor cujo ministério é um programa de rádio para
crianças. Por causa da transmissão do programa, ele recebe milhares de cartas –
as quais precisa responder – e precisa manter o ministério na igreja, o que o
obriga a trabalhar os sete dias da semana. Quando me contava sobre o sucesso de
seu ministério com as crianças, eu lhe perguntei:
–
Quanto tempo você passa com seus próprios filhos?
Ao
que ele respondeu:
–
Ora, não tenho tempo para isso, mas eles precisam entender que esse é o meu
ministério.
Certa
vez a esposa de um pastor me fez uma pergunta delicada:
–
Será mesmo possível que Deus abençoe o ministério do meu marido?
Ela
então me explicou porque fez tal pergunta. O seu marido é líder de uma igreja,
ocupa uma posição de responsabilidade, é muito requisitado em círculos de
liderança, e estava tão ocupado com as causas cristãs que julgou ser necessário
mudar-se e morar longe da família. Sua mulher agora cria, sozinha, os filhos.
Ela, em meio às lágrimas, me perguntou:
–
Ele não deveria estar em casa conosco?
Essas
duas conversas, junto com minha própria experiência pastoral, fez crescer
dentro de mim uma preocupação com as famílias dos líderes de igrejas. Acredito
que não dizemos o bastante para eles: "Suas famílias fazem parte de seus
ministérios também".
Pensei
a respeito disso à luz de minha própria família, e me dei conta de que é mais
fácil evitar crises familiares fora do ministério da igreja do que dentro dele.
E há motivos para isso.
Podemos
ser tentados a construir, em nosso conceito de ministério da igreja, as
próprias fraquezas que levam à destruição do casamento e da família. Muitos
pastores fazem isso sem perceber. Aconteceu comigo, e por esse motivo, deixei o
ministério.
Eu
sentia a necessidade de provar que era um bom pastor. Eu ensinei, por meio das
minhas atitudes e palavras, que a obra de Deus é também obra da igreja, e
sempre tentava fazer um pouco mais. Consequentemente, estava sempre de plantão.
Mesmo quando estava em casa, mentalmente era como se não estivesse. O telefone
tocava e eu pulava para atender. Era só colocar minha gravata e eu estava
"profissionalmente" pronto – e se um membro da igreja aparecesse e me
encontrasse de calça jeans?
Em
uma noite, pouco depois do jantar, um pastor aposentado de nossa comunidade me
ligou e perguntou se eu gostaria de ir pescar com ele até o anoitecer. Eu tinha
a intenção de fazer algumas ligações naquela noite, mas aquele homem era idoso
e tinha problemas cardíacos. Ele só podia ir pescar se alguém fosse com ele
para ajudá-lo a colocar o barco na água e ligar o motor. Como também gosto de
pescar, concordei em ir com ele. Voltei para casa uma hora e meia depois.
Enquanto
estava fora, um membro da congregação ligou e exigiu saber onde eu estava.
Retornei a ligação assim que cheguei e descobri que se tratava de algo tão
simples que poderia ter esperado. Mas essa pessoa espalhou a notícia de que o
pastor nunca estava disponível, que estava sempre pescando. Por sentir esse
tipo de pressão, passei a me esforçar mais ainda para provar que levava a sério
o meu trabalho. O que acabou sendo uma armadilha, já que nunca conseguia fazer
o bastante.
Tratava-se
de um problema pessoal? Sim, mas vi ao longo de minha vida muitos ministros
passarem por isso também. Alguns surtam mentalmente, outros resolvem mudar de
vocação, e há ainda os que, por não estarem em casa construindo fortes laços
familiares, cedem a outras pressões, como a tentação de iniciar um
relacionamento com outra mulher.
Poucos
pastores negligenciam o lar e a família porque querem; é algo que acontece
lentamente, e isso se dá porque as pessoas – com quem esses homens possuem os
relacionamentos mais íntimos – não são aquelas com quem eles dividem seu teto:
são os membros de suas igrejas, já que eles permitem que o ministério tome todo
o seu tempo.
Precisamos
nos acalmar, relaxar e passar algum tempo com nossas famílias. Estamos fazendo
um grande desserviço às nossas congregações quando não mostramos o quanto isso
é importante para nós e para eles também. Se passarmos a impressão de que toda
essa correria acontece porque estamos "sendo cristãos", eles podem
até apreciar nosso trabalho, mas não saberão que temos uma responsabilidade com
nossas famílias e que eles devem ter com as suas também. Não há mais ninguém
que possa suprir as necessidades da minha mulher e dos meus filhos. Deus deu
essa função a mim.
No
presente momento, devido a minhas responsabilidades, passo quase um terço do
ano viajando. Já ouvi a pergunta: "As viagens não tomam o tempo com sua
família?" Para mim pessoalmente, é bastante tempo, mas minha família diz
que não estou tão ausente agora quanto nos tempos em que era pastor, quando
estava sempre trabalhando.
Agora,
no entanto, é diferente. Quando estou em casa, estou realmente em casa. Apesar
de ir ao escritório todos os dias, e algumas vezes até levar trabalho para casa
à noite, consigo parar quando quero. Coloco uma roupa confortável, caminho pela
casa, enfim, estou ali tanto fisicamente quanto mentalmente.
Conversando
com líderes que enfrentaram esse problema "recorrente" no ministério
e vendo como eles valorizam o tempo dedicado à família, aprendi lições bastante
úteis:
1ª
lição - Os pastores devem exigir tempo em casa. Conheço um pastor que é
bastante específico em suas exigências.
Ele
diz: "Limito meu tempo de trabalho a 50 horas por semana". Ele disse
que, como pastor, gostaria de ter, no mínimo, três noites por semana em casa.
"Se vou pregar para workaholics na minha congregação, preciso dar o
exemplo com minha própria vida, pela maneira como administro meu tempo. Os
pastores precisam prestar atenção em si mesmos e avaliar suas vidas".
Há
pastores que falam a respeito das "necessidades da família", mas
cujas famílias não recebem atenção. Eles querem tempo para eles, longe da
família. E, algumas vezes, até mesmo usam a família como desculpa para
trabalharem o mínimo possível. Mas a maioria dos pastores não são preguiçosos;
trabalham duro. Desejam construir uma sólida vida familiar baseada no amor, e
isso requer esforço.
2ª
lição - Os pastores de uma comunidade precisam separar um tempo para falar a
respeito das tentações sofridas por cada um deles: sociais, financeiras,
sexuais.
Não
se trata de uma atitude triunfalista, algo como "deixe-me contar como
consegui", mas sim de dividir problemas que todos enfrentamos e explorar
maneiras para vencê-los.
Um
pastor que conheço afirmou:
–
Existem seis pastores em nosso grupo, então podemos discutir nossas
necessidades pessoais abertamente. Choramos e oramos juntos, e sei que, se
enfrentar qualquer problema em minha família, posso contar com eles.
Um
jovem pastor, que se preparava para partir com sua família para o campo
missionário, disse:
–
Temos amigos a quem recorrer quando precisamos de conselhos. Quando estávamos
na faculdade, um de nossos professores nos disse certa vez: "Se for
preciso escolher entre uma tarefa e sua família, fique com sua família".
Nunca me esquecerei disso.
3ª
lição - É necessário que se programe noites familiares na agenda da igreja, não
para que as pessoas compareçam a algum evento, mas para que fiquem em casa ou
saiam em família.
As igrejas podem ajudar as famílias a ficarem juntas, a brincar, orar e
conversar. Diversas coisas acontecem quando o tempo em família é programado e
esperado. Para começar, as crianças sabem. Vi um pastor sorrir ao contar:
–
Comprei minha primeira autorização para pesca porque meu filho queria que
fôssemos pescar juntos.
Outro
pastor, cujos filhos já estão crescidos, disse:
–
Eu e minha esposa participamos de um grupo de coral juntos. É uma boa diversão
para nós.
Alguns
pastores agendam esse tempo em família em dias de eventos escolares para que
possam comparecer com seus filhos. Outros fazem piqueniques ou passeios, mas
sem a companhia de outros membros da igreja. O objetivo é a união da família, e
não outra função da igreja.
4ª
lição - As demandas da congregação e outras programações do ministério podem
ser organizadas de modo que nem o pastor e nem os fiéis sejam obrigados a fazer
todo o trabalho.
Alguns
líderes admitem que nem sempre querem delegar trabalho – pois este é um escape.
Um pastor confessou:
–
Estava usando meu trabalho para evitar minha família. Quando as crianças me
irritavam, eu dizia: "Bom, eu preciso dar alguns telefonemas". Isso
era verdade; sempre havia ligações a serem feitas. Mas eu não estava sendo
justo com minha família.
Os
pastores geralmente passam a ficar mais tempo em casa quando se dão conta de
que suas famílias são congregações dadas por Deus. Ouvi um pastor dizer:
–
Preciso me lembrar constantemente que não sou indispensável, que não sou
pessoalmente responsável pela salvação do mundo. Sou responsável por tocar as
vidas daqueles à minha volta. Acredito que ser pastor não é tão diferente de
ser pai. Servir, cuidar, ouvir e aconselhar é uma espécie de ministério tão
importante quanto o aconselhamento pastoral.
Em
uma noite de inverno, eu e meu filho colocamos nossos casacos e deitamos no
quintal para observar as estrelas cadentes. Compartilhamos momentos de profunda
admiração. Não ficamos lá fora por muito tempo por causa do frio, mas foi algo
memorável. Nunca vou me esquecer; acredito que meu filho também não. Ao lembrar
disso, no entanto, me dei conta de que, provavelmente, nunca teria feito isso quando
trabalhava como pastor. Estaria ocupado em alguma reunião da igreja, ou dando
telefonemas.
Cada
um de nós pode fazer um bom trabalho no ministério e ainda ter tempo para a
família. Um dia, estaremos diante de Deus e ouviremos as seguintes palavras: "Muito
bem, servo bom e fiel". Ouviremos essas palavras não apenas porque
servimos a igreja; as ouviremos também porque servimos àqueles que Deus colocou
mais perto de nós – nossa família. Ela também faz parte de nosso ministério.
Roger
C. Palms foi pastor,
capelão universitário e editor da revista Decision, e escreveu 15 livros,
dentre eles Celebrando a vida depois dos 50, publicado pela primeira vez no
Brasil em 2000, pela editora Textus
Fonte:http://www.cristianismohoje.com.br/artigos/familia/pastores-podem-ter-um-ministerio-eficaz-e-garantir-um-tempo-de-qualidade-com-suas-familias