Por Osmar Ludovico |
Um
dos pilares da experiência cristã é a vida devocional, isto é, o cultivo de uma
relação de intimidade com Deus através da leitura bíblica e da oração. Na
recomendação de Jesus Cristo, a vida devocional acontece no quarto de portas
fechadas, no secreto, longe do público e das distrações.
A vida devocional é um privilégio
extraordinário para os que creem. Na antiga aliança, só o sumo sacerdote, uma
vez por ano, tinha acesso à presença de Deus no Santo dos Santos, no templo de
Jerusalém. Porém, no momento em que Jesus Cristo morre na cruz, o Evangelho
relata que o véu que dava acesso ao Senhor foi rasgado de alto a baixo – e
lemos no livro de Hebreus que, agora, podemos entrar confiadamente na sala do
trono pelo novo e vivo caminho no sangue de Cristo.
Deus não está mais no templo de Jerusalém,
edificação feita por mãos humanas. Agora, ele habita no coração do homem e da
mulher que nele creem e, assim, nosso corpo se tornou o templo do Espírito
Santo. Este é o mistério de Cristo em nós; assim foi abolido o sacerdócio como
privilégio dos levitas e, no Filho de Deus, o sacerdócio se tornou universal e
inclui todos os crentes. Apesar disso, o que temos visto na Igreja é um
retrocesso, pois o lugar do encontro com Deus se tornou o templo no domingo; a
adoração é intermediada pela banda e pelo dirigente do louvor, e Deus fala
através de pregadores ungidos. Além disso, levamos nossas orações para
intercessores que, supostamente, têm poder.
O resultado é uma geração de crentes que
dependem de intermediários na sua relação com Deus. Ao invés da leitura bíblica
pessoal, ouvimos sermões, e no lugar da oração pessoal, aquela que se desnuda
diante do Senhor, fazemos nossos pedidos na reunião de oração. É por isso que
existem tão pouco santos e profetas entre nós, e tantos crentes imaturos e
instáveis. Santo não é aquele que não peca mais, mas o que sabe que é um grande
pecador e vive quebrantado e na dependência do Espírito Santo. E profeta não é
aquele que adivinha o futuro, mas denuncia o mal e anuncia o juízo, sem
preocupação em agradar aos outros.
A vida devocional ficou em segundo
plano, e sem uma relação pessoal com Deus a ênfase recai na vida comunitária,
no programa, no culto – em parte porque nos tornamos pessoas inquietas e
agitadas que não conseguem parar, e em parte porque achamos que Deus só fala conosco
através de pastores. Mas também negligenciamos a vida devocional porque achamos
improdutiva e perda de tempo e buscamos experiências espirituais eufóricas e
entregamo-nos ao ativismo religioso.
Sabemos que Deus habita o mais alto e
santo lugar nos céus, mas também habita o coração do contrito e do abatido de
espírito. Procuramos o Altíssimo nos mais altos céus – mas ele está muito mais
perto de nós, no nosso coração. Encontramos o Senhor mais facilmente quando
descemos, e não quando subimos; descemos ao nosso coração para encontrá-lo por
trás da nossa maldade e da nossa agitação. A casa do Pai é o nosso próprio
coração: por isso, voltar para à casa do Pai é retornar ao nosso próprio
coração. Ali, ouvimos sua palavra e lhe respondemos com nossas orações. Esta é
uma descrição da vida devocional. Em outras palavras, podemos dizer que é o
cultivo de uma amizade com Deus no recôndito do nosso coração. Nossa vida se
torna, então, um caminho com Cristo até Cristo, um caminho em direção ao nosso
próprio coração, onde o Senhor nos aguarda apesar das nossas agitações e
preocupações. Aquietamo-nos para encontrá-lo e, quando o encontramos, estamos
prontos para encontrar outros.
Sabemos da importância dos frutos na
vida cristã: fruto de arrependimento, fruto do Espírito e fruto de boas obras.
Todavia, a parte mais importante de uma árvore é a raiz. A árvore pode ter um
tronco magnífico e folhas viçosas, mas se a raiz estiver afetada, seus frutos
serão ruins e ela pode até morrer. Pois a vida devocional é raiz que precisa
estar coberta, no escuro, nas profundezas. Se ela é saudável, alimentando-se da
seiva viva e bebendo dos mananciais de águas puras, então não precisamos nos
preocupar com os frutos – eles, certamente, virão e serão bons.
Precisamos resgatar o ensino e a prática
do sacerdócio universal dos crentes e o vinculo de intimidade com Deus através
da leitura bíblica e da oração no secreto.
Fonte: http://www.cristianismohoje.com.br/colunas/osmar-ludovico/encontramos-o-senhor-mais-facilmente-quando-descemos-e-nao-quando-subimos
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