3 de jun. de 2014

A vida devocional

Por Osmar Ludovico
Um dos pilares da experiência cristã é a vida devocional, isto é, o cultivo de uma relação de intimidade com Deus através da leitura bíblica e da oração. Na recomendação de Jesus Cristo, a vida devocional acontece no quarto de portas fechadas, no secreto, longe do público e das distrações.
A vida devocional é um privilégio extraordinário para os que creem. Na antiga aliança, só o sumo sacerdote, uma vez por ano, tinha acesso à presença de Deus no Santo dos Santos, no templo de Jerusalém. Porém, no momento em que Jesus Cristo morre na cruz, o Evangelho relata que o véu que dava acesso ao Senhor foi rasgado de alto a baixo – e lemos no livro de Hebreus que, agora, podemos entrar confiadamente na sala do trono pelo novo e vivo caminho no sangue de Cristo.
Deus não está mais no templo de Jerusalém, edificação feita por mãos humanas. Agora, ele habita no coração do homem e da mulher que nele creem e, assim, nosso corpo se tornou o templo do Espírito Santo. Este é o mistério de Cristo em nós; assim foi abolido o sacerdócio como privilégio dos levitas e, no Filho de Deus, o sacerdócio se tornou universal e inclui todos os crentes. Apesar disso, o que temos visto na Igreja é um retrocesso, pois o lugar do encontro com Deus se tornou o templo no domingo; a adoração é intermediada pela banda e pelo dirigente do louvor, e Deus fala através de pregadores ungidos. Além disso, levamos nossas orações para intercessores que, supostamente, têm poder.
O resultado é uma geração de crentes que dependem de intermediários na sua relação com Deus. Ao invés da leitura bíblica pessoal, ouvimos sermões, e no lugar da oração pessoal, aquela que se desnuda diante do Senhor, fazemos nossos pedidos na reunião de oração. É por isso que existem tão pouco santos e profetas entre nós, e tantos crentes imaturos e instáveis. Santo não é aquele que não peca mais, mas o que sabe que é um grande pecador e vive quebrantado e na dependência do Espírito Santo. E profeta não é aquele que adivinha o futuro, mas denuncia o mal e anuncia o juízo, sem preocupação em agradar aos outros.
A vida devocional ficou em segundo plano, e sem uma relação pessoal com Deus a ênfase recai na vida comunitária, no programa, no culto – em parte porque nos tornamos pessoas inquietas e agitadas que não conseguem parar, e em parte porque achamos que Deus só fala conosco através de pastores. Mas também negligenciamos a vida devocional porque achamos improdutiva e perda de tempo e buscamos experiências espirituais eufóricas e entregamo-nos ao ativismo religioso.
Sabemos que Deus habita o mais alto e santo lugar nos céus, mas também habita o coração do contrito e do abatido de espírito. Procuramos o Altíssimo nos mais altos céus – mas ele está muito mais perto de nós, no nosso coração. Encontramos o Senhor mais facilmente quando descemos, e não quando subimos; descemos ao nosso coração para encontrá-lo por trás da nossa maldade e da nossa agitação. A casa do Pai é o nosso próprio coração: por isso, voltar para à casa do Pai é retornar ao nosso próprio coração. Ali, ouvimos sua palavra e lhe respondemos com nossas orações. Esta é uma descrição da vida devocional. Em outras palavras, podemos dizer que é o cultivo de uma amizade com Deus no recôndito do nosso coração. Nossa vida se torna, então, um caminho com Cristo até Cristo, um caminho em direção ao nosso próprio coração, onde o Senhor nos aguarda apesar das nossas agitações e preocupações. Aquietamo-nos para encontrá-lo e, quando o encontramos, estamos prontos para encontrar outros.
Sabemos da importância dos frutos na vida cristã: fruto de arrependimento, fruto do Espírito e fruto de boas obras. Todavia, a parte mais importante de uma árvore é a raiz. A árvore pode ter um tronco magnífico e folhas viçosas, mas se a raiz estiver afetada, seus frutos serão ruins e ela pode até morrer. Pois a vida devocional é raiz que precisa estar coberta, no escuro, nas profundezas. Se ela é saudável, alimentando-se da seiva viva e bebendo dos mananciais de águas puras, então não precisamos nos preocupar com os frutos – eles, certamente, virão e serão bons.
Precisamos resgatar o ensino e a prática do sacerdócio universal dos crentes e o vinculo de intimidade com Deus através da leitura bíblica e da oração no secreto.


Fonte: http://www.cristianismohoje.com.br/colunas/osmar-ludovico/encontramos-o-senhor-mais-facilmente-quando-descemos-e-nao-quando-subimos 

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