8 de jul. de 2014

Quatro lições para uma vida familiar melhor

POR Roger C. Palms

Pastores podem ter um ministério eficaz e garantir um tempo de qualidade com suas famílias.

Há pouco tempo conheci um pastor cujo ministério é um programa de rádio para crianças. Por causa da transmissão do programa, ele recebe milhares de cartas – as quais precisa responder – e precisa manter o ministério na igreja, o que o obriga a trabalhar os sete dias da semana. Quando me contava sobre o sucesso de seu ministério com as crianças, eu lhe perguntei:
– Quanto tempo você passa com seus próprios filhos?
Ao que ele respondeu:
– Ora, não tenho tempo para isso, mas eles precisam entender que esse é o meu ministério.
Certa vez a esposa de um pastor me fez uma pergunta delicada:
– Será mesmo possível que Deus abençoe o ministério do meu marido?
Ela então me explicou porque fez tal pergunta. O seu marido é líder de uma igreja, ocupa uma posição de responsabilidade, é muito requisitado em círculos de liderança, e estava tão ocupado com as causas cristãs que julgou ser necessário mudar-se e morar longe da família. Sua mulher agora cria, sozinha, os filhos. Ela, em meio às lágrimas, me perguntou:
– Ele não deveria estar em casa conosco?
Essas duas conversas, junto com minha própria experiência pastoral, fez crescer dentro de mim uma preocupação com as famílias dos líderes de igrejas. Acredito que não dizemos o bastante para eles: "Suas famílias fazem parte de seus ministérios também".
Pensei a respeito disso à luz de minha própria família, e me dei conta de que é mais fácil evitar crises familiares fora do ministério da igreja do que dentro dele. E há motivos para isso.
Podemos ser tentados a construir, em nosso conceito de ministério da igreja, as próprias fraquezas que levam à destruição do casamento e da família. Muitos pastores fazem isso sem perceber. Aconteceu comigo, e por esse motivo, deixei o ministério.
Eu sentia a necessidade de provar que era um bom pastor. Eu ensinei, por meio das minhas atitudes e palavras, que a obra de Deus é também obra da igreja, e sempre tentava fazer um pouco mais. Consequentemente, estava sempre de plantão. Mesmo quando estava em casa, mentalmente era como se não estivesse. O telefone tocava e eu pulava para atender. Era só colocar minha gravata e eu estava "profissionalmente" pronto – e se um membro da igreja aparecesse e me encontrasse de calça jeans?
Em uma noite, pouco depois do jantar, um pastor aposentado de nossa comunidade me ligou e perguntou se eu gostaria de ir pescar com ele até o anoitecer. Eu tinha a intenção de fazer algumas ligações naquela noite, mas aquele homem era idoso e tinha problemas cardíacos. Ele só podia ir pescar se alguém fosse com ele para ajudá-lo a colocar o barco na água e ligar o motor. Como também gosto de pescar, concordei em ir com ele. Voltei para casa uma hora e meia depois.
Enquanto estava fora, um membro da congregação ligou e exigiu saber onde eu estava. Retornei a ligação assim que cheguei e descobri que se tratava de algo tão simples que poderia ter esperado. Mas essa pessoa espalhou a notícia de que o pastor nunca estava disponível, que estava sempre pescando. Por sentir esse tipo de pressão, passei a me esforçar mais ainda para provar que levava a sério o meu trabalho. O que acabou sendo uma armadilha, já que nunca conseguia fazer o bastante.
Tratava-se de um problema pessoal? Sim, mas vi ao longo de minha vida muitos ministros passarem por isso também. Alguns surtam mentalmente, outros resolvem mudar de vocação, e há ainda os que, por não estarem em casa construindo fortes laços familiares, cedem a outras pressões, como a tentação de iniciar um relacionamento com outra mulher.
Poucos pastores negligenciam o lar e a família porque querem; é algo que acontece lentamente, e isso se dá porque as pessoas – com quem esses homens possuem os relacionamentos mais íntimos – não são aquelas com quem eles dividem seu teto: são os membros de suas igrejas, já que eles permitem que o ministério tome todo o seu tempo.
Precisamos nos acalmar, relaxar e passar algum tempo com nossas famílias. Estamos fazendo um grande desserviço às nossas congregações quando não mostramos o quanto isso é importante para nós e para eles também. Se passarmos a impressão de que toda essa correria acontece porque estamos "sendo cristãos", eles podem até apreciar nosso trabalho, mas não saberão que temos uma responsabilidade com nossas famílias e que eles devem ter com as suas também. Não há mais ninguém que possa suprir as necessidades da minha mulher e dos meus filhos. Deus deu essa função a mim.
No presente momento, devido a minhas responsabilidades, passo quase um terço do ano viajando. Já ouvi a pergunta: "As viagens não tomam o tempo com sua família?" Para mim pessoalmente, é bastante tempo, mas minha família diz que não estou tão ausente agora quanto nos tempos em que era pastor, quando estava sempre trabalhando.
Agora, no entanto, é diferente. Quando estou em casa, estou realmente em casa. Apesar de ir ao escritório todos os dias, e algumas vezes até levar trabalho para casa à noite, consigo parar quando quero. Coloco uma roupa confortável, caminho pela casa, enfim, estou ali tanto fisicamente quanto mentalmente.
Conversando com líderes que enfrentaram esse problema "recorrente" no ministério e vendo como eles valorizam o tempo dedicado à família, aprendi lições bastante úteis:

1ª lição - Os pastores devem exigir tempo em casa. Conheço um pastor que é bastante específico em suas exigências.
Ele diz: "Limito meu tempo de trabalho a 50 horas por semana". Ele disse que, como pastor, gostaria de ter, no mínimo, três noites por semana em casa. "Se vou pregar para workaholics na minha congregação, preciso dar o exemplo com minha própria vida, pela maneira como administro meu tempo. Os pastores precisam prestar atenção em si mesmos e avaliar suas vidas".
Há pastores que falam a respeito das "necessidades da família", mas cujas famílias não recebem atenção. Eles querem tempo para eles, longe da família. E, algumas vezes, até mesmo usam a família como desculpa para trabalharem o mínimo possível. Mas a maioria dos pastores não são preguiçosos; trabalham duro. Desejam construir uma sólida vida familiar baseada no amor, e isso requer esforço.

2ª lição - Os pastores de uma comunidade precisam separar um tempo para falar a respeito das tentações sofridas por cada um deles: sociais, financeiras, sexuais.
Não se trata de uma atitude triunfalista, algo como "deixe-me contar como consegui", mas sim de dividir problemas que todos enfrentamos e explorar maneiras para vencê-los.
Um pastor que conheço afirmou:
– Existem seis pastores em nosso grupo, então podemos discutir nossas necessidades pessoais abertamente. Choramos e oramos juntos, e sei que, se enfrentar qualquer problema em minha família, posso contar com eles.
Um jovem pastor, que se preparava para partir com sua família para o campo missionário, disse:
– Temos amigos a quem recorrer quando precisamos de conselhos. Quando estávamos na faculdade, um de nossos professores nos disse certa vez: "Se for preciso escolher entre uma tarefa e sua família, fique com sua família". Nunca me esquecerei disso.

3ª lição - É necessário que se programe noites familiares na agenda da igreja, não para que as pessoas compareçam a algum evento, mas para que fiquem em casa ou saiam em família. As igrejas podem ajudar as famílias a ficarem juntas, a brincar, orar e conversar. Diversas coisas acontecem quando o tempo em família é programado e esperado. Para começar, as crianças sabem. Vi um pastor sorrir ao contar:
– Comprei minha primeira autorização para pesca porque meu filho queria que fôssemos pescar juntos.
Outro pastor, cujos filhos já estão crescidos, disse:
– Eu e minha esposa participamos de um grupo de coral juntos. É uma boa diversão para nós.
Alguns pastores agendam esse tempo em família em dias de eventos escolares para que possam comparecer com seus filhos. Outros fazem piqueniques ou passeios, mas sem a companhia de outros membros da igreja. O objetivo é a união da família, e não outra função da igreja.

4ª lição - As demandas da congregação e outras programações do ministério podem ser organizadas de modo que nem o pastor e nem os fiéis sejam obrigados a fazer todo o trabalho.
Alguns líderes admitem que nem sempre querem delegar trabalho – pois este é um escape. Um pastor confessou:
– Estava usando meu trabalho para evitar minha família. Quando as crianças me irritavam, eu dizia: "Bom, eu preciso dar alguns telefonemas". Isso era verdade; sempre havia ligações a serem feitas. Mas eu não estava sendo justo com minha família.
Os pastores geralmente passam a ficar mais tempo em casa quando se dão conta de que suas famílias são congregações dadas por Deus. Ouvi um pastor dizer:
– Preciso me lembrar constantemente que não sou indispensável, que não sou pessoalmente responsável pela salvação do mundo. Sou responsável por tocar as vidas daqueles à minha volta. Acredito que ser pastor não é tão diferente de ser pai. Servir, cuidar, ouvir e aconselhar é uma espécie de ministério tão importante quanto o aconselhamento pastoral.
Em uma noite de inverno, eu e meu filho colocamos nossos casacos e deitamos no quintal para observar as estrelas cadentes. Compartilhamos momentos de profunda admiração. Não ficamos lá fora por muito tempo por causa do frio, mas foi algo memorável. Nunca vou me esquecer; acredito que meu filho também não. Ao lembrar disso, no entanto, me dei conta de que, provavelmente, nunca teria feito isso quando trabalhava como pastor. Estaria ocupado em alguma reunião da igreja, ou dando telefonemas.
Cada um de nós pode fazer um bom trabalho no ministério e ainda ter tempo para a família. Um dia, estaremos diante de Deus e ouviremos as seguintes palavras: "Muito bem, servo bom e fiel". Ouviremos essas palavras não apenas porque servimos a igreja; as ouviremos também porque servimos àqueles que Deus colocou mais perto de nós – nossa família. Ela também faz parte de nosso ministério.

Roger C. Palms foi pastor, capelão universitário e editor da revista Decision, e escreveu 15 livros, dentre eles Celebrando a vida depois dos 50, publicado pela primeira vez no Brasil em 2000, pela editora Textus


Fonte:http://www.cristianismohoje.com.br/artigos/familia/pastores-podem-ter-um-ministerio-eficaz-e-garantir-um-tempo-de-qualidade-com-suas-familias